17 setembro 2008

[..Morte & Poesia..]

Mais do que em outras gerações do romantismo, o ultra-romantismo se destacou através do sentimentalismo excessivo e sombrio. Além disso, vários de seus autores tiveram a existência marcada pelo sofrimento, e um reconhecimento literário póstumo.

O autor Cruz e Sousa teve o casamento atormentado pelos distúrbios mentais de sua esposa, e a morte de seus quatro filhos vitimados pela tuberculose pulmonar. Edgar Allan Poe viveu na miséria por muito tempo.

O escritor e religioso Junqueira Freire morreu, prematuramente, aos 23 anos. Casimiro de Abreu morreu enfraquecido pela tuberculose em 1860, três meses antes de completar 22 anos. Assim também foi a trajetória do mais famoso ultra-romântico brasileiro: Álvares de Azevedo.

O paulista viveu e escreveu sob a tétrica fluência Byroniana, falecendo precocemente no dia 25 de Abril de 1852, antes de completar 21 anos. Enquanto seu corpo era sepultado, o amigo Joaquim Manuel de Macedo recitava "Se Eu Morresse Amanhã"; obra escrita por Álvares de Azevedo poucos dias antes. Mas o poeta teria pressentido sua morte?

O inglês Lord Byron morreu aos 36 anos, mas sua poesia é vasta, pontuada nos temas fúnebres e sobrenaturais. Em sua inacabada obra Don Juan, escreveu: "Sobre o tálamo nupcial, dizem os rumores/ Na noite das bodas de leve esvoaça/ Mas ao leito de morte de seus senhores/ Não falha - para gozar a desgraça..." Esta é uma alusão ao fantasma do Frade Negro.

Há uma lenda, que esta aparição invadia a mansão da Família Byron regozijando-se nas tragédias; por outro lado, apresentava-se com feições pesarosas nas ocasiões felizes. Mas este fantasma teria atormentado e, de certa forma, inspirado Lord Byron?

O conceito do suicídio também está presente, mas algumas vezes, esta idéia foi além dos versos e alcançou a vida dos autores. Abalado com o falecimento de seu avô, Lovecraft tentou se matar aos 14 anos, atirando-se de bicicleta no rio Barrington.

A biografia da poetisa Florbela Espanca nos traz um exemplo fatal: após casamentos infelizes, rejeição da família e da sociedade e dois abortos, Florbela suicidou-se aos 36, anos ingerindo uma dose excessiva de medicamentos.

As tragédias pessoais também alimentam a inspiração ultra-romântica.

Fagundes Varela escreveu Cântico do Calvário, uma homenagem ao seu filho morto com apenas três meses de vida. Ainda sofreu a perda de outro filho em seu segundo matrimônio, e faleceu aos 34 anos em absoluto desequilíbrio mental.

Ainda neste contexto, podemos citar novamente Florbela Espanca. A poetisa portuguesa é autora de As Máscaras do Destino; dedicada ao seu irmão que também cometeu suicídio.

Alphonsus de Guimaraens perdeu sua noiva Constança, vítima de tuberculose aos 17 anos. Mesmo casando-se posteriormente, toda sua vida e obra foram marcadas por esta ausência. Portanto, a saúde frágil e muitas vezes debilitada pela incurável tuberculose (segundo o inglês Shelley: "a doença da moda"), decepções afetivas, fracassos financeiros e a perda de entes queridos formaram um quadro dramático comum aos poetas, que parece ter contribuído intensamente na inspiração e refletido nos temas soturnos do estilo.

Assim, a alma dos ultra-românticos manifestava
o tédio, melancolia e desilusão em que viviam imersos.

Mas seriam os poetas "tristes de nascença"?

Ou tornavam-se "poetas tristes" em decorrência
de uma vida repleta de sofrimento?


Por Spectrum


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