05 setembro 2008

SuicídiO...]



Suicídio
O elevado número de suicídios de escritores e pintores,
bem como as vivências de angústia e sofrimento
patente em muitas das manifestações artísticas,
me fazem refletir



Eu pensando:



POETAS SUICIDAS: Florbela Espanca, Cruz e Sousa, Antero de Quental, Cláudio Manuel da Costa,Camilo Castelo Branco, Mário de Sá-Carneiro, Antero de Quental Augusto de cinco! Rita, Mário Eloy, Virginia Woolf, Sylvia Plath, Guy de Maupassant, Vincent van Gogh, Wladimir Maiakovski e Sergey Yêssenin e ainda outros Existem fortes indícios de terem sofrido de doença afetiva, dependência, alcoólica ou química R Schumman, Coleridge, Keats, Tolstoi, Verlaine, E Allan Poe, Jack London, Mozart,Malcolm Lowry, Monet,Wagner, Beethoven...


Me parece paradoxal: se a criatividade é uma neoconstrução da realidade, em que o criador escolhe livremente as peças do seu puzzle, exigindo para isso plena integridade do pensamento, e, pelo contrário, o pensamento psicopatológico está empobrecido e perturbado pela doença mental como é tão evidente a associação entre patologia mental e criatividade?


Será que o velho mito,
de que o todo artista
é um louco,
é verdadeiro?


Mas quando falamos de doença mental,
estaremos a referir-nos a quê?
E de que maneira essa patologia
influencia a criação artística?

Dois estudos norte-americanos chamam a atenção:

-O primeiro procurou estudar o chamado
pensamento Janusiano (do deus romano Jano,
representado com dois rostos,
um de jovem e outro de velho)
Em que palavras, idéias ou imagens
antitéticas são conceptualizadas
simultânea ou sucessivamente,
surgindo depois à criação (ou síntese)
como resultado desse confronto.

-Quatro grupos estudados:
-Um grupo de cientistas galardoados
com o premio Nobel]
-Um grupo de doentes mentais
-Um de indivíduos bastante criativos
-E outro de indivíduos pouco criativos

Foi o grupo dos indivíduos mais criativos,
ou seja, o dos cientistas do Nobel,
que obteve as cotações mais
elevadas no teste de associação de palavras

-Os doentes mentais obtiveram as
cotações mais baixas colocando-se
os indivíduos criativos e os pouco
criativos numa posição intermédia

Concluindo que:
O pensamento criador e o pensamento
psicopatológico são coisas diferentes
Com efeito, ao avaliar a incidência
de doença mental num grupo de
trinta escritores contemporâneos e
um grupo com estatuto social e Q. I.
semelhantes, observou-se, que os
escritores tinham uma maior
prevalência de doença afetiva,
sobretudo bipolar.

A esquizofrenia primava pela ausência,
solidão, e angustia...

-Um outro estudo procurou analisar a
patologia mental de 13 escritores suicidas,
tendo verificado e igualmente uma elevada
incidência de doença afetiva depressão,
e ainda alcoolismo em cerca de um
terço dos casos.

Nesta ordem de idéias, até que
ponto a vivência depressiva e a
temática de perda eram visíveis
na poesia contemporânea

(?)

- Escolhi duas antologias,:
"Edoi Lelia Doira", de Herberto Hélder,
que engloba poetas desde a segunda
metade do séc XIX até à atualidade,
E outra de caráter diferente,
o Anuário de Poesia de Autores
não Publicados, e curiosamente,
em ambas encontrei uma percentagem
semelhante de poemas onde a temática
era claramente de perda, de luto, de angústia
(cerca de 2/3) Dos 18 poetas selecionados
por H. Hélder, sete sofriam, de acordo
com a resenha biográfica, de alguma
forma de doença mental:
-Suicídios Internamento/psiquiátricos
-Alcoolismo Dependência/química, etc

E quanto à pintura?
Será que através da abservação de
uma obra, poderemos inferir algo
acerca do estado de espírito
do seu criador?

Observem os quadros Picasso,
"Vidas", da sua fase azul uma tela de Eu Greco,
"Toledo numa noite de tempestade"
a "Romaria de Santo Isidro",
da série "Divertimentos Populares",
de Goya, logo após a sua surdez
(“Mistério e melancolia de uma rua”,
de Chirico, e ainda uma pungente
escultura de Kienholz, “Alegria de viver”
com a tela “Paraíso”, de Kandinsky
“O Vermelho é a crista do galo”, de Gorky
A noção de bipolaridade entre estes
dois grupos de obras é quase instintiva)

Mas será que estes quadros, por
mais sugestivos ou reveladores que
sejam de um determinado estado de
espírito do seu criador, poderão ser
considerados pelos psiquiatras como
um elemento de diagnóstico de
doença mental, nomeadamente de depressão

(?)

Se observarmos a produção artística
de doentes sofrendo de patologia afetiva,
e que não são artistas tem pouco impacto
emocional, é pobre do ponto de vista artístico

-Um deprimido com ideação suicida é
reveladora pela sua temática
A representação gráfica de caixões,
pedras tumulares, cruzes, coradas
pendentes e outros símbolos da morte
na nossa cultura deverão alertar
para a existência de idéias de suicídio.

O mesmo se passa, aliás, com a
expressão poética:um estudo de Sharlin
sobre poemas de jovens que
posteriormente se suicidaram,
quando comparadas com as de
um grupo de controle, revelou
diferenças semânticas significativas

-Um doente deprimido, revela, segundo
os autores do estudo, um pendor suicida.
Este tipo de elementos aparece freqüentemente
na pintura destes doentes, como se
fosse uma metáfora:
Um sol de cores violentas,
uma estrada que parece caminhar para ele.

Tentadora a analogia destes elementos
gráficos com um poema de

Sylvia Plath, (poetisa que veio a suicidar-se)

Um dos últimos quadros de Van Gogh,
pintado poucos dias antes de se suicidar
O famoso “Gralhas no trigal"
Curiosamente, a sua estrutura
é semelhante à atrás descrita.

Aqui, um outro exemplo da obra
de um doente sofrendo de depressão
e idéias de suicídio:
O sol,
os diversos símbolos da morte,
o rio,
ou a estrada, entre montanhas

Nada, porém, comprova a existência
de sintomatologia depressiva
na altura em que foram pintados
Apenas afirmo que essas experiências
de horror foram transmutadas,
pulverizadas e reconstruídas,
mas de tal maneira que o sentimento
que transmitem é diferente do
das telas de deprimidos

A existência das metáforas pictóricas
a que aludi, quer na pintura, quer na poesia,
constituem um tipo de comunicação
não-verbal que convém saber reconhecer
As vivências experimentadas
nas fases depressivas:
angústia,
desespero,
aspectos fóbicos,
obsessivos e paranóides,
perda da auto-estima,
agressividade,
sofrimento,
entre outros,

também nas fases hipomaníacas
ou mesmo maníacas:
felicidade,
perfeição,
clareza,
exuberância,
desinibição, etc...

Todas essas vivências ampliam
o universo emocional do artista,
vindo posteriormente a
ser utilizada na criação.

Muitos autores, sugerem que
a "lucidez" da depressão, i.e.
todo aquele material que é
ruminado, mas não rentabilizado
devido à inibição psico-motora
e aos aspectos da distorção
cognitiva que ocorrem durante
uma fase depressiva, dá depois
os seus frutos numa fase de hipomania
O processo criador aparece-nos
como uma magnífica estratégia
para lidar com a depressão,
com os sentimentos de perda
de auto-estima e do sentido da vida,
com a tristeza e com a revolta,
até mesmo com a própria ideação suicida.

Ao criar, o artista dá à luz os
seus monstros escondidos.
O fato de serem descobertos
ou revelados retira-lhes alguma
da carga emocional que contêm:
no fundo, o mesmo efeito se obtém
com a chamada psicoterapia de apoio,
ou inespecífica

Não é, pois por acaso que
se fala tanto em exorcismo
ou catarse, acerca do ato criador,
e que tantos artistas dão
testemunho desse alívio

Goethe, ao escrever o seu Werther,
exorcizou os seus impulsos suicidas,
provavelmente salvando a própria vida

Esta conceptualização das relações
entre doença afetiva e criação artística,
é apenas um dos níveis de leitura
da complexidade do artista e da sua obra


"E eu sou
a seta,
o orvalho que voa suicida,
em uníssono com o ímpeto
para dentro do olho vermelho,
o caldeirão da manhã"

[Sylvia Plath]

[Ensaio feito a partir deste estudo
Doença/afeitvidade/criatividade]



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4 comentários:

*** Cris *** disse...

Doença/afetividade/criatividade. Assunto interessante,muitos se escondem atrás de suas obras.
Bom fim de semana!

Jay disse...

Todo artista é muito louco!

Marcia Paula disse...

o texto acaba comprovando que o que existe de fato é uma normalidade aproximada.Sem dúvida que a obra reflete certos aspectos do autor e vice-versa.Enquanto catarse,como foi dito salvá-os,mas se a salvação ou a expulsão dos demônios não vêm,eles versam sobre o tema do suícidio em sua obras(seja qual for).Casos clássicos na literatura: Sylvia Plath-"Redoma de Vidro";Virginia Woolf-"O Quarto de Jacob".Beijos,adorei o nível de informação.

Lais disse...

É verdade, os maiores gênios se matam, ou morremjovens..é estranho mesmo...provavelmente se eles não sofressem não fariam belas coisas.

bom eu tenho ansiedade, depre mas passo longe de ser criativa...rsrs

Gostei muito do seu blog.

beijo