28 outubro 2008

CRUZ E SOUZA

João da Cruz e Sousa nasceu a 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, atualmente, Florianópolis. O nome João da Cruz é uma alusão ao Santo homenageado no dia de seu nascimento, San Juan de la Cruz. Filho dos escravos alforriados Guilherme, pedreiro; e de Eva Carolina da Conceição, cozinheira e lavadeira, João da Cruz foi criado pelo Coronel Guilherme Xavier de Sousa (que viria tornar-se Marechal) e sua esposa Clarinda Fagundes de Sousa, que não tiveram filhos. Assim, acabou por herdar o nome Sousa e obteve uma educação proporcional a dos brancos abastados de seu tempo. Com apenas 9 anos de idade já escrevia e recitava seus poemas para os familiares. Com o falecimento de seu protetor em 1870, as condições de vida tornaram-se menos confortáveis para o jovem João da Cruz.

Em 1871, entrou no Ateneu Provincial Catarinense. A partir de 1877, lecionava aulas particulares por necessidade financeira e impressionava seus companheiros de estudo pela capacidade intelectual. Conhecedor profundo de francês, chegou a ser citado numa carta do naturalista alemão Fritz Muller. Nesta carta dirigida ao próprio irmão em 1876, o naturalista citava João da Cruz como um exemplo contrário das teorias de inferioridade intelectual dos negros.

No ano de 1877, suas obras poéticas passaram a ser publicadas em jornais de Santa Catarina. Ao lado dos amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, João da Cruz fundou um jornal literário intitulado "O Colombo", em 1881. No ano seguinte fundo a "Folha Popular". Nesta mesma época, partiu em excursão pelo Brasil junto a uma companhia teatral e declamava seus poemas nos intervalos das apresentações. Também se engajou na luta social e passou a liderar conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado promotor da cidade de Laguna. Mas não chegou a assumir o cargo devido ao furor preconceituoso de chefes políticos da região.

Em 1885 publica seu primeiro livro de co-autoria de Virgílio Várzea, intitulado Tropos e Fantasias. Até 1888 atuou em jornais, revistas e no centro da Imigração da Província de Santa Catarina. Neste mesmo ano, viajou para o Rio de Janeiro a convite de Oscar Rosas.

Em 1891 transferiu-se definitivamente para a então capital da República, Rio de Janeiro. A partir daí entrou em contato com novos movimentos literários vindos da França. Neste caso, João da Cruz e Sousa identificou-se especialmente com o chamado Simbolismo. O negro sulista que se enveredava pelos caminhos do Simbolismo, sofria duras críticas do meio intelectual de sua época; já que nesse momento, o Parnasianismo era a referência literária emergente.

Em novembro de 1893 casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, também descendente de escravos africanos. Deste matrimônio nasceram quatro filhos, Raul, Guilherme, Reinaldo e João. Mas todos faleceram de tuberculose pulmonar. Sua esposa, ainda sofreu de distúrbios mentais que chegaram a refletir até mesmo nos escritos do poeta.

Ainda em 1893 publicou dois livros: Missal (influenciado pela prosa de Baudelaire) e Broquéis; obras que marcaram o lançamento do movimento simbolista brasileiro. Em 1897, concluiu um livro de prosa poética denominado Evocações. Quando preparava-se para publicá-lo, viu-se abatido pela tuberculose e partiu para Minas Gerais em busca de tratamento. Faleceu em 19 de março de 1898 aos 36 anos de idade. Seu corpo foi levado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de gado. O amigo José do Patrocínio pagou as despesas com o funeral e o enterro no cemitério São Francisco Xavier. No ano de sua morte ainda foi publicado Evocações. Em 1900, Faróis; e em 1905, o volume de Últimos Sonetos.

O negro que contrariou o preconceito racial e se pôs a liderança do Simbolismo brasileiro, é autor de uma obra que traz versos como: "Anda em mim, soturnamente / Uma tristeza ociosa / Sem objetivo, latente / Vaga, indecisa, medrosa" (Tristeza Do Infinito - Últimos Sonetos). Além de: "De dentro da senzala escura e lamacenta / Aonde o infeliz / De lágrimas em fel, de ódio se alimenta / Tornando meretriz" (Da Senzala – O Livro Derradeiro). Percebe-se num primeiro momento o sofrimento de uma alma que ecoou diretamente em sua obra. Mas posteriormente, a consciência social e humanista de um cidadão. Cruz e Sousa, o Dante Negro ou Cisne Negro, foi um poeta Simbolista que ainda não obteve o reconhecimento literário devido, mas agrega em sua obra a essência única de um autor que cativa e comove por sua autenticidade.

"Que importa que morra o poeta?
Importa que não morra o poema!"
(Cruz e Sousa)

Por Spectrum


Obras Disponíveis:

Conto (Download)
Emparedado

Poemas (Downloads)
Broquéis
O livro derradeiro
Missal
Faróis
Últimos Sonetos





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6 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo post, Sandrinha!
Seus banners/links já estão nos meus blogs.
Obrigada pela amizade, beijo! :)

Pelos caminhos da vida. disse...

Bom dia amiga!

Volto depois pra ler seu texto,vim convidar vc para aparecer no meu blog hoje, fiz post especial para vcs amigos.

beijooo.

Amarísio Araújo disse...

Gostei muito do post,Sandrinha.Fez-me
voltar as minhas aulas de Literatura no Segundo Grau.Estudar o Simbolismo me agradava muito, era-me sempre prazeroso ler aquelas poesias que traziam grande intensidade romântica,a fusão de
sentidos("nasce a manhã,a luz tem cheiro"),a associação de idéias e imagens,a musicalidade,a intuição.
As obras de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens me fascinavam e ainda me fascinam.
Obrigado pelo prazer de hoje.
Obrigado pela visita ao meu recanto e o carinho deixado lá.
Beijos.

meus instantes e momentos disse...

parabens pelo post, muito , muito bom.
Muito bom teu blog como um todo, muito bom vir aqui.
Tenha uma bela noite.
Maurizio

meus instantes e momentos disse...

parabens pelo post, muito , muito bom.
Muito bom teu blog como um todo, muito bom vir aqui.
Tenha uma bela noite.
Maurizio

Anônimo disse...

Que bela homenagem, Cruz e Souza o grande poeta, precisa ser mais lembrado e lido. Parabéns. Paz e harmonia para você.

Forte abraço.

CAUROSA - caurosa.wordpress.com